Caro Professor X.
Envio para seu conhecimento um trabalho realizado sobre a obra de Machado de Assis.
O trabalho de leitura iniciou sem nenhuma intenção pré-concebida, visava uma varredura de sua obra e, não mais que de repente, comecei a notar a repetição de certas palavras, e vim então a concluir pela tese de que essas palavras serviam de estrutura ao pensamento de Machado de Assis.
Petalogia é uma concepção herdada de Paula Brito que o autor tomou como direcionamento.
O tema mítico da amizade entre Pílades e Orestes, que aparece e seu conto de 1903, estava presente desde a origem.
O Caiporismo, a aleatoriedade, pela ideia de que o Acaso seria o autor de nossas vidas, teria vindo da peça proibida de Joaquim Serra, “Quem tem boca vai a Roma” (1857), e recebe um conto específico, “Rei dos Caiporas” (1870). O conto se repete com outro nome, “Último capítulo” em 1883.
O Realismo em Machado de Assis vai do início ao final com a mesma ideia de retorno sobre a pessoa dos atos nos quais participou, presente no conto inicial, “Três tesouros perdidos” (1858), e percorre toda a sua obra.
Esse Realismo confere com o pensamento psicológico tanto do autor como da psicanálise, o après-coup, o golpe posterior que surpreende, e é ideia presente desde Sócrates, quando levava pela maiêutica seu interlocutor à perplexidade, também motivo das Meditações Metafísicas de Descartes, uma ideia presente no fundamento do pensamento humano. “Dom Casmurro”, de 1899, é melhor compreendido sob essa ótica.
Vários outros vocábulos se repetem: Imortal, Oráculo, Emulação, Rubicon, Espelho, Prometeu no Cáucaso, Similia similibus curantur, Metafísica, Moralidade. O Gênio Original tem uma única ocorrência, mas se repete de modo oculto como o Daemon.
A originalidade visando a posteridade estava na mente de Machado desde o início em “O imortal” (1859). O conto “Califa de Platina” (1878) insiste na pergunta “ainda não fiz nada que verdadeiramente se possa dizer original”, “uma idéia extremamente original, mandai cortar o nariz a todos os vossos súditos”, “logo contra semelhante idéia, que lhes pareceu excessivamente original”, “a idéia era prodigiosamente original”, “a idéia era a mais profundamente original de quantas tinham sido propostas”, “uma idéia verdadeiramente original”, “verdadeiramente original a idéia”. Repetição exagerada assim é sinal de um sintoma.
O livro, creio eu, é uma novidade que irá surpreender leitores e pesquisadores.
Envio para seu conhecimento.
Independentemente de qualquer compromisso, uma pergunta: seria possível alguma orientação de sua parte sobre a possibilidade de que viesse a ser publicado pela editora Companhia das letras?
Pela novidade do material, creio que uma grande editora poderia vir a se interessar.
Desde já, agradeço.
Adelmo Marcos Rossi (27) 999635775
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